quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Papai Noel é um lixo?


Reproduzimos a Coluna do Juremir Machado no Correio do Povo de hoje:

Crédito: ARTE PEDRO LOBO


A Alemanha quer ser o primeiro país ocidental considerado zona livre de Papai Noel. É um movimento semelhante aos que buscam tornar um lugar zona livre de poluição, de terrorismo ou de drogas. Já tem uma cidade mobilizada. Quem reina por lá agora é São Nicolau, personagem turco que está na origem do "Bom Velhinho".

A desconstrução dos mitos não poupa ninguém. O Papai Noel que todos conhecemos, vestido de vermelho, suando nos trópicos, é uma adaptação americana. Segundo os alemães que dele querem se livrar, o Papai Noel "modelo ianque" não passa de um representante comercial, um marqueteiro a serviço do consumismo desenfreado e dos valores materiais.
Nada a ver com o milenar e generoso Nicolau.

A guerra contra Papai Noel não é de hoje. Em 1979, o grupo teatral francês Splendid montou uma peça intitulada "Papai Noel É um Lixo". Em 1982, Jean-Marie Poiré transformou a peça em filme. Esse título provocou comoção. Uma campanha publicitária no metrô parisiense foi recusada para não chocar os passageiros. O nome original da obra, "Papai Noel se meteu uma bala no traseiro", foi abandonado pelos criadores para evitar uma insurreição popular. Os franceses, como se sabe, adoram montar barricadas e jogar paralelepípedos.

Em 1994, os americanos, sempre pragmáticos ou cínicos, fizeram um "remake" do filme com o título de "Mixed Nuts". Mas foi na televisão francesa que o filme de Poiré fez sucesso. Ganhou a admiração de toda uma geração saturada de Noel.

O problema dos alemães não é saber se Papai Noel existe. É eliminá-lo.

Os alemães são radicais e bizarros. Conseguem graus de honestidade avassaladores. Eu ficava aturdido, quando morei em Berlim, pelo de fato de não haver roletas na entrada do metrô. Ficava me sentindo desconfortável com tanta falta de controle. Custei a entender que o controle era muito maior. Controle introjetado, fiscalização rigorosa e punição. Quase fui multado por ter atravessado a rua com o sinal fechado para mim sem um carro visível em 500 metros.

Papai Noel está com os dias contados na Alemanha. É persona non grata. Será condenado por falsidade ideológica e plágio. Apossou-se da identidade de Nicolau. Transformou espiritual em material, dom em consumo, troca de presentes em consumismo, generosidade em mercantilismo.

O visual do Papai Noel atual foi criado pelo cartunista alemão Thomas Nast, em 1886, na revista Harper''s Weeklys. Isso quer dizer que Papai Noel é uma piada? Cada um que julgue. Como se vê, foi uma origem não muito católica. Nem cristã. Mas o novo "look" só emplacou mesmo quando a Coca-Cola, em 1931, lançou uma campanha publicitária para esquentar as vendas de inverno do seu xarope gelado com o velhinho de barba branca vestido de vermelho.

Moral da história: sem marketing nem Papai Noel vai longe. Vocês podem não acreditar, mas assim como o Palmeiras já vestiu azul, o Papai Noel já andou de verde. Os Estados Unidos caçam Bin Laden e Julian Assange. A Alemanha, o Papai Noel. Eu me ocupo de Bento Gonçalves.

Juremir Machado da Silva juremir@correiodopovo.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo!
Vou passar o próximo natal na Alemanha!

Anônimo disse...

Excelente o texto sobre o velho noel, vamos à luta, já faz 3 anos que faço a comparação do velho noel, com o menino Jesus no programa de rádio e com certeza aos poucos conseguiremos derrubar a teoria do "CONSUMISMO AMERICANO".
Feliz 2011 para todos da Confraria dos poetas de Jaguarão.

Sandro Calvetti

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