terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Rio de Janeiro continua lá


Vitor Ramil - Sapatos em Copacabana


Andei recentemente pelo Rio de Janeiro. Selecionaram um trabalho de minha pesquisa sobre o direito de propriedade e fui apresentá-lo em um congresso internacional de filosofia. Pousei no Astória, em Copacabana. No caminho entre o hotel e a estação do metrô - meu ponto de embarque para ir até o campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro -, eu caminhava duas ou três quadras por uma ruazinha muito simpática. A dita se chama Rua Tonelero; Isto! Aquela, do cabuloso atentado contra Carlos Lacerda, que precipitou a crise política e que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas.

Lembrei Sapatos em Copacabana do Vitor Ramil: Sei que não tenho nome,/ só minha juventude. No meu caso nem isso, mas lembrei dos tempos idos; de minha juventude, meu grupo de amigos, visceralmente ligados ao horizonte cultural que o Rio de Janeiro representava. Semanalmente íamos à Tabacaria do Zé conferir se já tinha chegado o Pasquim. Já? Opá! Que regalo! Sentávamos ali mesmo – havia assentos no canteiro central da Vinte e Sete; nem dava para esperar chegar em casa. O Hélio era fã do Jaguar (cartunista genial, sem dúvidas), o Dídio lia o semanário de cabo a rabo e eu, bueno, eu me deliciava com as coisas que o Luiz Carlos Maciel (gaúcho) escrevia sobre teatro e sobre a contracultura. Obviamente éramos todos leitores aficionados do, igualmente gaúcho e genial, Tarso de Castro.

O Pasquim representava exatamente algo que era muito a nossa cara: a multiculturalidade - que é um traço inarredável de qualquer unificação política heterogênea, como é o caso do Brasil, e que precisa expressar afirmativamente as diferenças, sem que, no entanto, venha a perder a unidade. Esta unidade na diferença, que é o germe da grande política, também é uma marca muito própria da nossa gente de fronteira, que convive com o diferente sem abdicar daquilo que lhe é constituinte – do seu ser brasileiro, do seu ser uruguaio, do seu ser argentino, ou paraguaio, boliviano, venezuelano, chileno, etc.

Voltando ao Rio de Janeiro, sem medo de ser provinciano, o Rio de Janeiro continua lindo, a enseadita do tal bairro Botafogo é mesmo um cartão postal – um gole de água fresca pros olhos!

Sérgio Batista Christino

Texto publicado na coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 20/10/2011

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