terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Visconde do Telho e o movimento modernista




A pá dos vapores rodando, Os Fords rodando,
Inquietas, as ruas se alargando,
Rumor , Guindastes, bate estacas
Páhh, Páhh, Páhh

estalidos de uma ponte se erguendo,

Trilhos, trem de ferro, a modernidade

Os barcos dos areieiros, O caniço na água!
Chuá, chuá, chuá
Ehh, ohh, ehh, ohh

A esteira de ouro do charque, do boi em pé...
Ah, essa vaidade máxima de ser gauchamente!!!


Este é um fragmento de um Folheto intitulado “Jaguaruna enlouquecida”, segundo nos relata em 1919, o Padre Carmelita Teófilus Ambrosius no seu diário de viagens pelo sul do Brasil. O texto, de um tal “Visconde do Telho” chegou-lhe às mãos quando viajava no vapor América, de Jaguarão para Rio Grande, e havia provocado grande repercussão entre os viajantes pelo teor pouco convencional da linguagem utilizada.

Podemos supor que o poemeto seguiu seu périplo até o Porto de Santos, vindo a circular pelas mãos de algum letrado, nas rodas literárias da então embrionária escola modernista de São Paulo e não duvidamos que tenha sido lida por um dos Andrade, haja vista a similaridade com alguns pontos da “Paulicéia Desvairada”.

Luiz dos Paços, o Visconde, era um intelectual avançado para sua época e espaço geográfico. Em 1918, quando do seu retorno de uma Europa abalada pelo pós-guerra foi visto pelas ruas gritando: "Dadá – Dadá!"

Era um tipo aficionado à misantropia, o que contradizia sua produção literária, afeita aos avanços do século e do convívio intelectual com os estranhamentos. Vivia confinado em seu sítio às margens do Telho. Porém, em esporádicas viagens que fazia à cidade, quando do início da construção da ponte, estabeleceu amizade com alguns jovens engenheiros germânicos com os quais pode travar  alguns debates sobre as novas ideias modernistas também na área da arquitetura.

Influenciado por muitas de suas ideias, Karl Becker, voltou para a Alemanha e participou ativamente da “Bauhause”, movimento que inovou profundamente a arquitetura e engenharia modernas.

Em busca desse elo perdido, podemos apreciar o neto do Visconde, o Barão de Sobradinho, na imagem frente às colunas de Niemeyer, encerrando assim o ciclo, inaugurado pelo pensamento inovador de seu avô, quando escreveu “ Jaguaruna enlouquecida”.

George Steps
correspondente em Castelgandolfo

Um comentário:

Analva Passos disse...

Grande Barão de Sobradinho!!!

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