terça-feira, 9 de julho de 2013

O Comício Monstro


O comentário do meu amigo José Alberto de que sou um bom contador de histórias, aqui publicado há pouco, animou-me a contar mais um desses causos que não estão no Gibi, como se dizia antigamente. Aconteceu numa época em que havia apenas doze ministros na capital federal, ao contrário da proliferação exagerada de quase quarenta hoje existente. E um desses raros ministros encontrou tempo para vir de Porto Alegre a a Jaguarão, em campanha política, numa viagem que tinha um dia de duração, nas péssimas estradas de chão batido então existentes.

Era o político Clóvis Pestana, Ministro da Viação e Obras Públicas, liderança do extinto Partido Social Democrático e um dos candidatos a reeleição para a Câmara Federal. Muito entusiasmado, o PSD jaguarense organizou então um super badalado comício no Largo da Bandeira, batizado de “comício monstro” para melhor dimensionar o seu esperado tamanho. E de fato, assim veio a acontecer, com a presença de numeroso público que ocupou todos os espaços disponíveis, das escadarias da igreja matriz à calçada da Praça 13 de Maio, entre as ruas Osório e 27 de Janeiro.

Entretanto, talvez porque o locutor local fosse muito iniciante, ele passou a descrever o encontro como um comício monstruoso, o que obviamente alterava por completo o sentido original. Mas o pior viria depois, após os primeiros discursos, quando esse locutor oficial finalmente anunciou, com toda a empolgação: “e agora, senhoras e senhores, chegou o grande momento deste comício, com a palavra o Ministro Clovis Sobrancelha”. Silêncio geral, alguns segundos de paralisia e expectativa até que o Ministro visitante, indignado com a troca de nomes, tomou o microfone e protestou: “Sobrancelha não, Pestana, Ministro Clóvis Pestana”. Embasbacado, mas ainda ao vivo, o nosso locutor tratou logo de se justificar: “Ah... Eu sabia que era no olho, só não me lembrava se era em cima ou se era embaixo”.

Pior emenda que o soneto. Foi o fim de uma breve e promissora carreira de apresentador, pois ele tinha uma excelente voz microfônica.


Pedro Fagundes Azevedo

Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 26/06/2013


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