quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Injustiça Monumental

JK - proibido de entrar na cidade que construiu
No tempo em que morei em Brasília, entre os vários espetáculos que tive o privilégio de presenciar, um deles foi marcante. Estava inserido na programação da Semana em que a capital festejava seus 50 anos e era totalmente gratuito. A apresentação no Teatro Nacional da Sinfonia Monumental,  obra do afamado compositor e músico, o bandolinista Hamilton de Holanda com o acompanhamento da Orquestra Sinfônica de Brasília.

A Sinfonia é dedicada a esse projeto fantástico que ergueu uma cidade, trabalho de arte e civilização na solidão do Planalto Central. A composição tem cinco movimentos, todos belíssimos. Mas o mais emocionante e o que nos toca profundamente é o quarto movimento, inspirado no Presidente Juscelino Kubitschek, o JK proibido. 

O compositor narra que ficou impressionado e comovido com o episódio em que JK vai à Brasília clandestinamente e chora diante de seu próprio busto na Praça dos Três Poderes depois de ter sido proibido pelo regime militar de entrar na Capital. 

E por que é uma cena tão comovente, caro leitor? É porque é uma cena brutal de injustiça. O homem responsável por concretizar o sonho da primeira missão que desbravou aquelas paragens em 1892, na construção que mobilizou milhares de famílias de todo o Brasil trocando suas terras de origem atrás do novo, da aventura, da obra monumental, é proibido de desfrutar da sua criação, da sua própria cidadania, já que havia sido cassado pela ditadura.

Conto-lhes esta reflexão sobre esse acontecimento da história brasileira, durante o governo militar instaurado pelo Golpe de 1964, que vitimou Juscelino e tantos outros políticos que lutavam por um país mais justo, sob acusações de corrupção, para ilustrar o quanto consideramos prejudicial à democracia a campanha contumaz por parte da grande mídia e de parte da oposição, de desvalorização da política, dos Partidos, dos Políticos, das próprias Instituições. Não sejamos ingênuos, essa guerra midiática que deslegitimou a política e levou os jovens a desacreditarem nela, foi o combustível das manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações sob o lema do “Gigante Acordou” visando essencialmente às eleições do ano que vem.


O mais importante de tudo o que aconteceu e o que ainda está por vir, deve ser o respeito às normas democráticas e ao bem maior que arduamente conquistamos, o Estado de Direito, para evitarmos novamente, injustiças monumentais. 

Jorge Passos


Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do jornal Fronteira Meridional em 31/07/2013


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