quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O Navio Fantasma

O Grande Altair devorado pelo Mar
Na madrugada do dia 6 de junho de 1976, soprava um vento fortíssimo em meio a uma tempestade nunca vista pelas praias do sul. Djalma, um pescador bageense acostumado a fisgar traíras no Arroio Valente, saiu de dentro da barraca armada nas areias do Cassino e se tocou em direção a um boteco, ali perto da Querência, para comprar uma garrafa de cana.

Com aquele vento, o negócio era ficar dentro da barraca e esperar o temporal passar. Djalma não tinha andado mais que uns cinco quilômetros quando avistou, na praia, o “maior peixe” de sua vida: um navio enorme, cujas cores, branco, cinza e laranja, brilhavam a cada novo relâmpago dentro da noite escura dando a impressão que continuava seu trajeto areia a dentro. Djalma, que ainda não tinha bebido nada, lembrou disso para se dar por conta que se tratava mesmo de um enorme navio encalhando na beira da praia e não de um tipo de visão etílica.

Djalma então voltou imediatamente para a barraca e convocou os colegas pescadores para ajudarem no salvamento dos marujos que procuravam sair do navio. Djalma, Beto e outros quatro pescadores da turma, levaram até o local a canoa Pingo de Ouro, que pertencia ao grupo, e demoraram quase três horas para retirar do Altair todos os 21 tripulantes sãos e salvos. Sim, Altair era o nome do navio de bandeira argentina que acabara de encalhar na Praia do Cassino.

A carga do Altair era de três mil toneladas de trigo que foi totalmente perdida. Durante muito tempo era possível ver aquela mancha amarelada composta pelos grãos do trigo na água que, de acordo com o vento e a direção das ondas, em alguns dias chegava até a praia do Hermenegildo, no Chuí. O lugar passou a ser ponto de referência na praia do Cassino. Tudo passou a ser, antes ou depois, do “navio afundado”. Várias espécies de peixes e outros animais marinhos passaram a fazer dos seus restos a sua morada e o local ficou também conhecido como um bom lugar para pescar.

Não há quem passe por lá e não bata uma foto, com os restos do navio encalhado ao fundo, como lembrança do Cassino. Quem ainda não fez isso poderá ter perdido a chance pois nestes últimos 34 anos o mar foi implacável com ele. Quase não há mais nada para se ver. Nada mesmo, se compararmos com as primeiras fotografias do Altair encalhado. Vários colegas do Estadual,como a nossa fotógrafa Liliana, já posaram com a família por lá. Muitos outros bageenses, além do Djalma e da Liliana, já viram esse navio.

Não é de hoje que a Praia do Cassino é uma das preferidas do pessoal de Bagé. Outros naufrágios ocorreram na praia do Cassino, mas o único navio que permaneceu lá, com seus restos para contar a história, foi o Altair.

Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 12/11/2014 

Extraído do blog http://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com.br  "O Navio Fantasma, A proeza do Djalma"

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